domingo, setembro 14, 2008

A flor e a fonte - Vicente de Carvalho



"Deixa-me, fonte "dizia
a flor, tonta de terror.
E a fonte, sonora e fria,
cantava, levando a flor.

"Deixa-me, deixa-me, fonte!"
Dizia a flor a chorar;
"Eu fui nascida no monte...
Não me leves para o mar."

E a fonte, rápida e fria,
com um sorriso zombador,
por sobre a areia corria,
corria levando a flor.

"Ai balanços do meu galho,
"balanços do berço meu;
ai, claras gotas de orvalho
caídas do azul do céu!...

Chorava a flor, e gemia,
branca, branca de terror,
e a fonte, sonora e fria,
rolava, levando a flor.

"Adeus, sombra das ramadas,
cantigas do rouxinol;
ai, festa das madrugadas,
doçuras do pôr-do-sol.

Carícias das brisas leves
que abrem rasgões do luar...
fonte, fonte, não me leves,
não me leves para o mar!"